A islandesa Hildur Gudnadottir (ou Guðnadóttir, na grafia original) conquistou no último domingo (9/2) o Oscar pela trilha sonora de Coringa. Antes, seu trabalho no filme estrelado por Joaquin Phoenix já havia rendido a ela o BAFTA (principal prêmio do cinema britânico), o Globo de Ouro e os prêmios da Associação de Críticos de Hollywood e da Sociedade de Compositores e Letristas. Assim, a vitória da artista era dada como quase certa, o que não diminui a importância de seu feito: além de reconhecer seu talento, ele põe em evidência o incentivo que a Islândia dá à cultura.
Proporcionalmente, o país é um dos que mais investem em cultura no mundo. Os desembolsos governamentais na área correspondem a 3,3% do produto interno bruto (PIB) – no Brasil, para efeito de comparação, a proporção é de 0,3%. Como o Scandinavian Way contou em outubro, o país até investe em um programa para levar músicos de outras partes do mundo para gravar lá. Iniciativas do gênero atraíram à Islândia produções de cinema (como as franquias Star Wars e Thor) e TV, entre elas a série Game of Thrones, da HBO, um megasucesso que deu enorme impulso ao turismo no país.
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Embora não haja estatísticas precisas a respeito, a Islândia é amplamente considerada o país com o maior número per capita de músicos no mundo, segundo registra o livro The Oxford Handbook of Popular Music in the Nordic Countries. Os cerca de 330 mil islandeses contam com cerca de 90 escolas de música, 400 corais, 400 orquestras e bandas marciais e um amplo universo de bandas de rock e conjuntos de jazz, além de DJs.
Como atesta o avanço do turismo, os investimentos da Islândia em cultura acabam sendo recuperado em outras áreas – além de melhorarem o nível educacional da população e construírem uma imagem positiva do país. Um ambiente como esse permitiu a ascensão de Hildur Gudnadottir e da cantora Björk, possivelmente a islandesa mais famosa do planeta.
E, por si só, a música é também uma atração turística no país. O jornalista e pesquisador Arnar Eggert Thoroddsen criou a Caminhada Musical de Reykjavík, um roteiro que passa por locais importantes na trajetória de alguns dos artistas islandeses mais conhecidos no exterior, como Björk, Sugarcubes (banda em que ela começou sua carreira), Of Monsters and Men e Sigur Rós (o Airbnb exibe comentários sobre a experiência).
Com os resultados concretos alcançados pela Islândia – dos quais o Oscar de Hildur Gudnadottir acaba sendo apenas a cereja do bolo -, deixamos a pergunta: investir em cultura é desperdício de dinheiro? É sempre bom refletir.